Sabugueiro, Seia, Portugal
O
Calceteiro calçava as ruas do Sabugueiro com pedra portuguesa em um dia de
nevoeiro. Terminado o seu serviço, avistou um vulto jovem com ar de desgraça mas
que disfarçava com o seu passo lento e postura autoritária.
“Tu!” grita
o jovem para o calceteiro, “Em que ano estamos?”
O
Calceteiro não queria acreditar na pergunta ridícula feita pelo jovem. Vendo
tal estado miserável tentou uma abordagem madura.
“Não
preciso de lhe perguntar se precisa de ajuda, porque vendo o seu estado e
ouvindo a sua pergunta sei que você não está bem. Tem fome? Quer ir a algum
sítio? Perdeu – se de alguém?” disse o Calceteiro.
O jovem indignado responde agressivamente.
“Mas tu sabes quem eu sou? Eu sou rei de Portugal! Eu sou S. Sebastião! E eu
desejo saber em que ano é que estamos!”
O Calceteiro estranhou a afirmação do jovem
com ar de desgraçado, mas ao olhar cuidadosamente para a cara do jovem, fazia –
lhe lembrar uma imagem do seu livro da primária referente a esse tal mito da
história portuguesa. Com ingenuidade ou sarcasmo, ou até mesmo com capacidade
de representação, o Calceteiro levou com seriedade as palavras do jovem
autoritário.
“Lamento
meu Rei. Mas com esse cheiro de carne putrificada, essas peles soltas que tem
na cara, os seus olhos amarelos e os insectos que compõem a sua vestimenta, eu
não o consegui reconhecer. Me perdoe meu Rei!” disse o Calceteiro.
“Então
responda – me! Em que ano estamos?” pergunta uma vez mais o jovem com ar de
desgraça.
“Estamos em
2012, Alteza! Já agora! É sua Alteza, minha Alteza ou simplesmente Alteza?”
“2012? Como
está a minha grande pátria Portugal?”
“Obrigado
pela atenção meu Rei! Mas creio que as pessoas com que deseja falar são os
ministros.”
“Ministros?
O que são ministros? Quem é essa gente?”
“Meu Rei, ordinariamente
todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e
pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são
nulos a resolver crises. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os
destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de
expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses,
por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha.”
“Sim!
Percebo Calceteiro! Este país está encoberto por um nevoeiro de despatriotismo!
Mas esta é a minha chegada! Comigo o país irá ressurgir! Eu sou o Rei de
Portugal D. Sebastião. Eu sou a Nova Luz!”
O Calceteiro fica desanimado olhando para o
jovem com ar de desgraça e avisa. “Meu Rei! Lamento informá-lo mas a Nova Luz é
chinesa!”
Texto: Guilherme Marques Barbosa
Fotos: Celso Gonçalves Roc2c
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