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quinta-feira, 3 de maio de 2012

O Mito do Calceteiro no Sabugueiro







Sabugueiro, Seia, Portugal


            O Calceteiro calçava as ruas do Sabugueiro com pedra portuguesa em um dia de nevoeiro. Terminado o seu serviço, avistou um vulto jovem com ar de desgraça mas que disfarçava com o seu passo lento e postura autoritária.
            “Tu!” grita o jovem para o calceteiro, “Em que ano estamos?”
            O Calceteiro não queria acreditar na pergunta ridícula feita pelo jovem. Vendo tal estado miserável tentou uma abordagem madura.
            “Não preciso de lhe perguntar se precisa de ajuda, porque vendo o seu estado e ouvindo a sua pergunta sei que você não está bem. Tem fome? Quer ir a algum sítio? Perdeu – se de alguém?” disse o Calceteiro.
             O jovem indignado responde agressivamente. “Mas tu sabes quem eu sou? Eu sou rei de Portugal! Eu sou S. Sebastião! E eu desejo saber em que ano é que estamos!”
             O Calceteiro estranhou a afirmação do jovem com ar de desgraçado, mas ao olhar cuidadosamente para a cara do jovem, fazia – lhe lembrar uma imagem do seu livro da primária referente a esse tal mito da história portuguesa. Com ingenuidade ou sarcasmo, ou até mesmo com capacidade de representação, o Calceteiro levou com seriedade as palavras do jovem autoritário.
            “Lamento meu Rei. Mas com esse cheiro de carne putrificada, essas peles soltas que tem na cara, os seus olhos amarelos e os insectos que compõem a sua vestimenta, eu não o consegui reconhecer. Me perdoe meu Rei!” disse o Calceteiro.
            “Então responda – me! Em que ano estamos?” pergunta uma vez mais o jovem com ar de desgraça.
            “Estamos em 2012, Alteza! Já agora! É sua Alteza, minha Alteza ou simplesmente Alteza?”
            “2012? Como está a minha grande pátria Portugal?”
            “Obrigado pela atenção meu Rei! Mas creio que as pessoas com que deseja falar são os ministros.”
            “Ministros? O que são ministros? Quem é essa gente?”
            “Meu Rei, ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha.”
            “Sim! Percebo Calceteiro! Este país está encoberto por um nevoeiro de despatriotismo! Mas esta é a minha chegada! Comigo o país irá ressurgir! Eu sou o Rei de Portugal D. Sebastião. Eu sou a Nova Luz!”
             O Calceteiro fica desanimado olhando para o jovem com ar de desgraça e avisa. “Meu Rei! Lamento informá-lo mas a Nova Luz é chinesa!”

Texto: Guilherme Marques Barbosa
Fotos: Celso Gonçalves Roc2c

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